Medalha Paulo Freire





A Câmara Municipal de Fortaleza realizou ontem (24) sessão solene para a entrega da Medalha Paulo Freire aos agraciados deste ano. O evento foi solicitado pelo vereador Evaldo Lima (PCdoB), presidente da Comissão de Educação, Ciência, Tecnologia, Informática e Inovação da Câmara Municipal. A escolha dos homenageados foi feita por uma comissão formada pela Comissão de Educação, Cultura, Desporto e Lazer da Câmara Municipal; Secretaria de Educação do município e do estado, UNE, UBES, Universidades e sindicatos representativos dos professores.

A solenidade foi presidida pelo vereador Evaldo Lima e a mesa dos trabalhos foi composta por: Maurício Holanda, secretário de Educação do Estado; Jaime Cavalcante, secretário de Educação do Município de Fortaleza; Eveline Mendes Oliveira, vice-presidente da Associação dos Educadores e Educadoras sociais do Ceará.

Em seu pronunciamento, de saudação aos presentes, o vereador Evaldo Lima, explicou como é feita a escolha dos agraciados, o perfil dos homenageados este ano destacou o papel do educador e atrajetória de Paulo Freire. "O que Paulo Freire defende, na verdade, é a educação como prática da liberdade, que vê o educando como sujeito da história, e que faz do diálogo e da troca os elementos essenciais para o desenvolvimento da consciência crítica, capaz de despertar nas pessoas a crença e a certeza da possibilidade de mudar o mundo pela via da educação, que tenha como primado a dialogicidade entre educando e educador", afirmou Evaldo.

Ele anunciou os agraciados deste ano que foram: Ana Maria Araújo Freire, mestre e doutora em Educação pela Pontifica Universidade Católica de São Paulo, esposa do educador Paulo Freire; Maria Margarete Sampaio de Carvalho Braga, graduada em Pedagogia, pela Universidade Federal do Ceará, especialista em Teoria da Interpretação e Análise Literária, mestre em Educação Brasileira e Doutora em Educação pela UFC; A Escola Haroldo Jorge Braun Vieira, localizada no bairro Vila União. A Vice-governadora Maria Izolda Cela de Araújo que também recebeu a Comenda, já que teve seu nome escolhido no ano passado pela Comissão e não pode receber a comenda por ser candidata a vice-governadora do Estado do Ceará.

Após anunciar os homenageados, Evaldo citou as últimas palavras escritas por Paulo Freire, 11 dias antes de sua morte, com relação ao assassinato do índio Galdino, por adolescentes. “Não é possível refazer este país, democratizá-lo, humanizá-lo, torná-lo sério, com adolescentes brincando de matar gente, ofendendo a vida, destruindo o sonho, inviabilizando o amor. Se a educação sozinha não transformar a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda.” Evaldo concluiu seu discurso com uma emocionante saudação: “Viva Paulo Freire! Viva a Educação! Viva o povo brasileiro!”, ao homenagear o grande educador. Em seguida houve a apresentação do coral “Sou Cantor”. Ato contínuo, os homenageados receberam a Medalha Paulo Freire.

Falando em nome dos homenageados, a educadora Ana Maria Araújo Freire, afirmou que não foi muito difícil adivinhar, que ela seria a indicada para falar em nome dos homenageados. “Qualquer uma de nos poderia falar com acerto, beleza e naturalidade. Essa escolha é por eu ser viúva de Paulo Freire. Esse é a segunda vez que recebo uma medalha com esse nome. Isso me dá uma alegria enorme, pois tem um significado que vai além dela mesma, pois perpetua o nome de um dos maiores educadores de todos os tempos”, frisou.

“Não foi por coisa corriqueira que ele se tornou patrono da educação brasileira, o que falta é que todas as escolas sigam a metodologia e a compreensão da educação de Paulo. Aí o país será feliz, democrático e humanizado. Paulo criou um método libertador, humanizador e dentro dessa compreensão maior é que há um método de educação que leva o nome dele. Estudando a educação brasileira ele viu que construímos uma sociedade escravocrata, onde a grande parte da população não sabia ler. E ele dizia, se sabem falar a palavra, por que não sabem escrever? Naquela época as crianças pobres eram rejeitadas, desvalidas, oprimidas da sociedade, então a compreensão de Paulo parte desse princípio”, destacou.

“Ele dizia: se nós fomos capazes de criar uma linguagem oral e depois escrita, ela é um patrimônio dos ser humano. Um homem e a mulher que chega a idade adulta sem ler e escreve é porque foi roubada uma parte de seu saber. Se é mais fácil saber mais o que já sabemos, vamos fazer dessas palavras as palavras geradoras e assim poderemos nos alfabetizar. Partindo do princípio, Paulo foi um homem que não se fixou na educação, como uma coisa pequena restrita. Para ele, cada um deveria se sentir criador de cultura e saber diferenciar o que é natureza o que é cultura. Se eu modifico a natureza, posso também modificar um desígnio divino, para adquirir a palavra escrita”, asseverou.

Disse ainda que não poderia me omitir, como mulher do Paulo, por 10 anos a citar um pouco de sua vida com ele. “Paulo foi trabalhar na escola do meu pai, quando eu tinha cinco anos. Convivi com ele por toda minha vida. De aluna e orientada, passei a ser sua esposa. E ele disse que nós mudamos a história de nossa relação. Ele dizia que não nasceu determinado a ser professor, mas com tendência, e foi por seu esforço e as circunstâncias que que ele pode se fazer um professor. O Paulo foi muito mais que professor, foi e é o professor de todos nós. Muito obrigado pela homenagem”, concluiu.

Em seguida falou a vice-governadora Izolda Cela. Ela disse que estava super-representada, pelas palavras da Nita Freire. “Fui agraciada no ano passado e não pude comparecer por ter sido ano eleitoral. Para mim é muito significativo receber essa comenda. Que tem o nome do grande educador. Quando recebo uma homenagem desta, devido a presença na educação, eu, por dever de justiça desejo compartilhar. A minha experiência, a construção, acontece pela interação com as pessoas, sinto isso de forma muito real. Tenho esse sentimento de compartilhar isso. As pessoas, desde lá em Sobral quando iniciei minha atuação na gestão pública, convivendo com grandes pessoas que participam dessa rede e do circuito que é muito rigoroso. Vejo aqui o professor Maurício Holanda, que desde aquele tempo está ao meu lado”, afirmou.

Destacou ainda os que estão nas escolas públicas, professores, diretores. Citou ainda companheiros da Secretaria de Educação do Estado e os municípios cearenses, “com quem estabelecemos uma parceria. Quando fui começar a ter noção do que se passava na educação dos municípios, minha visão mudou. Eu era da Universidade. Nesse momento vi que havia uma esperança. O Ceará vem obtendo resultados bem importantes em termos de educação no Nordeste. A estrada é longa, mais um dia chegaremos lá,” pontuou.

O secretário Maurício Holanda disse que “são tantas referencias pessoas e memórias que são suscitadas num momento como esse, fiz um percurso biográfico. Como professor, gente e cidadão. Sei que é uma referência pessoal, mas também sei que em alguma medida é uma referencia para muitas pessoas que estão aqui. Que participam nos últimos 40 anos da reconstrução do Brasil. Fiz pedagogia e resolvi porque descobri em 1982, um livro com um título muito instigante, “Educação como pratica da liberdade,” do Paulo Freire, e então fiz pedagogia noturno da Uece”.

“Fiz um trabalho com meninos de rua, e aí vem o Paulo Freire com uma brochura, uma das coisas mais agudas e mais claras de compreensão do que é trabalhar com aquele público – Paulo Freire e Educadores de Rua, o que iluminou aquilo que eu estava trabalhando. Depois vou ser educador de universidade e vou ensinar história da educação no Brasil, e ai encontrei a autora Ana Maria Araújo Freire. E ai resolvi fazer um doutorado e estava certo que os municípios brasileiros são provedores a educação que todos os brasileiros tem acesso. Eu tinha essa certeza e tenho que são os municípios que vão alicerçar a democracia e ai vem de novo o livro “Educação para cidade”, que vem com nova frase: “É obvio, é claro que existe fragilidade nas gestões municipais, mas se lhes for dado a tarefa de educar, elas o farão e apreenderão a marchar. Ai não é a principal epígrafe, é o título da minha tese, “aprendendo a marchar.”

O secretário destacou ainda, que os educadores resolveram se comprometer dando sua parte de colaboração e ao longo de quinze anos, e estão apreendendo a marchar e ensinando as nossas crianças a marchar no sentido mais nobre, andar pra frente com clareza, “por isso quero fazer referencia ao programa de aprendizado em conjunto, que o estado fortaleceu junto aos municípios, o PAIC, porque com certeza o Paulo Freire não ia querer continuar a alfabetizar milhares de adultos, que não tiveram direito de se alfabetizados quando crianças” observou.

Segundo ele, o Inep fez uma prova de leitura, escrita e matemática, com crianças do final do terceiro ano e lá encontrou uma coisa obriga aos educadores a se posicionarem. “Quando 36% das crianças nordestinas, com 8 anos de idade, não estão dominando a ferramenta básica de todo e qualquer saber futuro, numa sociedade urbana como a nossa. Mas esse resultado também nos honra. No conjunto dos estados do Norte e Nordeste, a média do Ceará foi de 15. Essa media cearense esta emparelhada com cinco estados São Paulo. Minas Gerais, Santa Catarina e Distrito Federal. Ela não nos honra porque lá estamos marcando um ponto da Formula 1, onde até o sexto pontua, mas por que é uma prova cabal de que crianças pobres do Norte e Nordeste não aprendem por serem incapazes, elas aprendem porque nós garantimos que elas tenham acesso às ferramentas para o aprendizado. Mostramos ao Brasil que as crianças não estão condenadas a miséria educacional por serem pobres”, finalizou.

Homenageados

Maria Izolda Cela de Arruda Coelho, psicóloga graduada em UFC, com especialização em educação infantil pela UFC; Gestão Publica pela UVA e mestrado em Gestão e Avaliação da Educação Pública pela Universidade Federal de Juiz de Fora; professora do curso de Pedagogia da UVA; orientadora de professores e educadores em psicogênese; Secretária de Educação do Estado e hoje é vice-governadora do estado.

Ana Maria Araújo Freire, graduada pela Faculdade de Filosofia letras de Moema (SP); mestrado e doutorado em Educação pela Pontifícia Faculdade Católica de SP; tem extensa produção literária como Paulo Freire uma Historia de Vida, entre outros. A educadora Nita Freire, como é conhecida foi casada com Paulo Freire. Desde 1997 assumiu a luta do marido.

Maria Margarete Sampaio de Carvalho Braga, educadora formada UFC, especialista em Teoria e Interpretação e analise literária pela Unifor; mestrado em Educação Brasileira pela UFC e doutorado em Educação UFPE, professora-adjunta pela UFC e coordenadora do curso de pedagogia da UECE.

Escola Haroldo Jorge Braun Vieira localizada no bairro Vila União, dirigida pela diretora Marfiza Medeiros, foi o primeiro lugar no Spaece-Alfa, promovida pela Secretaria de Estado de Educação, pelo Governo do Estado, onde 94,5% dos alunos foram aprovados por terem obtido alfabetização desejável.



Com informações da CMFor.

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