'Escrevendo o seu Futuro'

A Câmara Municipal de Fortaleza (CMFor) promove amanhã (21), às 9 horas, uma Sessão Solene para homenagear o jovem cearense Carlos Iury Vasconcelos, vencedor da Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o seu Futuro, com redação sobre a Praça Portugal.
Na oportunidade, também serão homenageadas a sua professora, Maria Helena Mesquita Martins, e a Escola Ensino Fundamental e Médio Renato Braga. O jovem de 17 anos passou por diversas etapas do concurso nacional e venceu três milhões de concorrentes com o seu artigo de opinião sobre o projeto da Prefeitura que pretende a destruição da Praça Portugal, no bairro Aldeota.
Em seu artigo de opinião, Iury considerou que a polêmica obra vai atropelar a memória da cidade. Em sua redação, o estudante se posicionou contra a substituição da praça por um cruzamento e a remoção das árvores dos canteiros centrais das avenidas Dom Luis e Santos Dumont.
Além da medalha de ouro, o estudante ganhou do concurso nacional um tablet, um notebook e uma impressora. A escola Renato Braga também recebeu 10 computadores, um projetor multimídia, livros e uma placa de homenagem.
 
Olimpíada de Língua Portuguesa
A Olimpíada de Língua Portuguesa é um concurso nacional de textos que acontece a cada dois anos e ocorre em cinco etapas (escolar, municipal, estadual, regional e nacional). Os estudantes concorrem nas categorias: poesia, memória, crônica e artigo de opinião. Em Fortaleza, com a vitória do jovem Iury na categoria artigo de opinião, a Escola Renato Braga foi a primeira a receber a medalha de ouro nesta competição.
 
A íntegra da redação vencedora:


Que rufem os tambores, não os tratores!


Enquanto na antiga Grécia as praças eram lugares onde as grandes decisões eram tomadas – as famosas ágoras –, em Fortaleza é em gabinetes fechados que se decide o destino da Praça Portugal, cartão-postal de nossa cidade.

A substituição da praça por um cruzamento está previsto do Plano de Ações Imediatas de Transporte e Trânsito (Paitt), apresentado pela prefeitura de Fortaleza. Já na primeira intervenção feita em nome do Paitt, mais de duzentas árvores dos canteiros centrais das avenidas Dom Luiz e Santos Dumont foram removidas, sob o argumento de que a eliminação dos canteiros irá melhorar a fluidez do tráfego naquela região. A cidade, que já assistiu a alguns descasos relacionados à preservação do patrimônio histórico e cultural, entre eles a paulatina substituição dos casarões da Avenida Santos Dumont por modernos prédios comerciais, inquieta-se.

Agora é a vez de a Praça Portugal deixar de existir. Na tentativa de impedir que isso aconteça, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) entrou com um pedido de tombamento da praça como patrimônio municipal, o qual foi prontamente negado pelo Conselho Municipal de Proteção ao Patrimônio Histórico e Cultural (Comphic), numa clara demonstração de contradição às suas principais funções: preservação e manutenção da cultura e da história da cidade. O projeto também é criticado pelo Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB).

Contudo, as pessoas que veem a praça apenas como uma rotatória concordam que ela deixe de existir para dar lugar a um cruzamento. Modelos de rotatórias semelhantes à da Praça Portugal são facilmente encontrados em países do Primeiro Mundo. Podemos citar o Arco do Triunfo, em Paris, e a Praça de Tetuan, em Barcelona, o que torna inaceitável a tese de que a Praça Portugal é um impasse ao trânsito de Fortaleza.

Sabemos que enfrentar o trânsito em nossa cidade é um verdadeiro teste de paciência. Em horário de pico, fileiras de carros, motos e transportes coletivos se formam pelas principais ruas da cidade, e chegar ao destino desejado virou um desafio. Não acredito que sacrificar a praça seja a única forma de solucionar esse problema, mesmo porque a construção de túneis também foi cogitada e, certamente, evitaria toda essa polêmica. Para o ambientalista José Sales, não é a praça que influencia o trânsito, mas uma série de fatores, como a falta de fiscalização e os estacionamentos irregulares.

O juiz Manoel de Jesus da Silva Rosa concedeu liminar impedindo que a prefeitura inicie as intervenções na Praça Portugal; entretanto, o prefeito já anunciou o início das obras para a primeira quinzena de setembro. É preocupante perceber que ainda há grandes chances de esse projeto seguir adiante.

Demolir praças, derrubar árvores… será mesmo a solução? Assim como o pedestre deve vir antes do carro e o transporte público antes do privado, os espaços públicos devem vir antes de obras de trânsito. Sou contra intervenções que atropelem a memória de uma cidade em nome do moderno, do novo. Dessa forma, precisamos exigir uma ampla discussão a respeito das ações que estão sendo implementadas na atual administração municipal.

Assim, pensar, discutir e debater o futuro da cidade é necessário. Não podemos permitir que gestores temporários, em nome da mobilidade urbana e do “desenvolvimento”, apaguem a memória da cidade. Não podemos fechar os olhos ao que acontece ao nosso redor sob pena de, na calada da noite, sermos acordados pelo “rufar” dos tratores a derrubar a praça e de nos lembrar que, em um dia não muito distante, já amanhecemos sem as árvores. Que a sexagenária Praça Portugal possa permanecer no coração do bairro Aldeota, com sua simbologia, sua beleza, sua história.




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