AFN na XI Bienal do Livro

Mário Magalhães e Lira Neto na XI Bienal Internacional do Livro do Ceará
Os premiados biógrafos Lira Neto (autor da trilogia Getúlio) e Mário Magalhães (autor de Marighella) estiveram na tarde de hoje, na XI Bienal Internacional do Livro do Ceará para a palestra "Biografar brasileiros". Durante a mesa, os convidados discutiram sobre os desafios de biografar no Brasil, destacando os artigos do código civil que preveem censura prévia às obras que incomodam os indivíduos nelas envolvidos. 
Mediado pela escritora cearense, Socorro Acioli, o encontro dos dois grandes biógrafos aconteceu na presença de um auditório cheio. O tema suscitou reflexões quanto à preservação do arquivo público nacional e o progresso da Lei de Acesso à Informação. Mário acredita que a situação dos arquivos memoriais brasileiros sofre pela má conservação. "Há arquivos que precisam de condições de luz e temperatura ideais para conservação. No Arquivo Público da Bahia, por exemplo, não há sequer ar condicionado", pontua. Mário reforçou também sobre a quantidade de "tesouros" no País que nunca foram acessados pelos pesquisadores. 
Trabalhando por nove anos, dos quais cinco anos e meio foram exclusivos, na biografia de Carlos Marighella, Mário não vê no gênero biografia um futuro financeiro promissor, mas ressalta o fascínio que tem pela atividade. "O que motiva é contar historias e, de alguma forma, deixar um legado, pra quem quiser saber, daqui a 100 anos, como foi o Brasil do Século Vinte." 
Apesar do reconhecimento com o livro "Marighella - o guerrilheiro que incendiou o mundo" e da vontade de biografar outras personalidades, como Carlos Lacerda e Leonel Brizola, Mário reforça aos risos: "Encarar uma empreitada dessa, durante nove anos, de novo, só em outra encarnação!" 
Diferente dos fazeres jornalísticos, que prezam pelo distanciamento dos casos, as atividades biográficas ocasionam em uma forte proximidade do autor com o personagem. "Há um envolvimento natural, o biógrafo se envolve com o biografado, mas essa aproximação, em nenhum momento, significa renunciar ou abdicar do senso crítico", reflete o escritor e jornalista Lira Neto. 
A questão polêmica envolvendo a proibição de biografias não autorizadas também foi discutida pelos autores durante o debate. Para o jornalista cearense, os artigos 20 e 21 do código civil, que tornam impublicáveis as obras que não tenham autorização legal dos envolvidos, são inconstitucionais e devem ser extirpados da legislação brasileira. "Eles (os artigos) não restringem, na letra da lei, a proibição ao gênero biografia, ele é uma proibição à própria narrativa histórica do Brasil”. 
Quem ganhou com o debate foi o estudante de Letras, Rafael Lima, de 19 anos. Apaixonado pelo gênero biográfico viu na palestra a oportunidade de conhecer um dos seus escritores favoritos (Lira Neto) e aprofundar os conhecimentos sobre as biografias brasileiras. "Gosto muito da escrita dele, porque ele transforma a biografia em uma narrativa muito interessante e esses encontros engrandecem o cenário literário do Ceará". 
O próximo trabalho de Lira Neto (que garante não ser uma biografia) se trata de uma reportagem histórica e deve tomar, no mínimo, três anos de sua vida. Enquanto que Mário trabalha em um novo livro, dessa vez um de não ficção que envolve crimes e mortes e deve ser lançado em 2016 pela Companhia das Letras. 
Amanhã (9) Lira Neto segue na programação da XI Bienal do Livro com a mesa "O resenhista e o crítico literário na (in)formação do leitor", a partir das 10 horas, e às 19 hoars lança o livro "Crônicas da Aldeia" no espaço Café Literário. A nova obra é uma seleção de crônicas que falam, além de outros temas, sobre saudade e infância.
A Bienal segue até domingo (14), das nove da manhã às dez da noite, no Centro de Eventos do Ceará.

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