Batista de Lima é cidadão fortalezense

Didi Mangueira entregou o título de cidadão fortalezense a Batista de Lima (foto André Lima)

A Câmara Municipal de Fortaleza (CMFor) concedeu na noite de ontem (26), o Título de Cidadão de Fortaleza ao professor, escritor e poeta José Batista de Lima. A comenda teve como proponente o vereador Didi Mangueira (PDT), através do requerimento 056/2014 aprovado por unanimidade pela Casa Legislativa. A sessão foi presidida pelo vereador Didi Mangueira e a Mesa dirigente foi composta pelas seguintes personalidades: Magnifica Reitora, Fátima Veras (Unifor); tenente-coronel Carlos Augusto Monteiro Gondim, representando o Exercito Brasileiro; Padre José Linhares Pontes, presidente do Conselho Estadual de Educação; Sebastião Valdemir Mourão, presidente da Academia Cearense da Língua Portuguesa e a professora Fátima Lemos, diretora do Colégio Maria Ester.
Em sua saudação ao homenageado e aos presentes, o vereador Didi Mangueira afirmou que como lavrense e mangabeirense se sentia bastante emocionado em prestar essa homenagem “Para qualquer vereador seria uma honra prestar essa homenagem a este grande nome da literatura cearense e brasileira, mas pra mim o sentimento é bem maior. Conheço o professor sei do compromisso que ele tem com a educação. No currículo diz que são 40 anos de serviços prestados e que serviço! Na Educação, na sala de aula formando cidadãos. Em um dos livros dele ele descreve que ao vir para Fortaleza, olhou para trás e viu o balançar dos pendões com o vento. Ele fez a leitura de que era como se fosse um tchau que a vegetação daquele grotão lhe dava, mas eu faço outra leitura de que era como se fosse um aplauso para o grande homem que ele se tornaria”, disse.
“Digo para o poeta Batista de Lima e procurei separar cuidadosamente esse momento, para que não houvesse confusão sobre o período eleitoral. Os senhores devem estar observando meu ar de cansaço, mas eu digo a vocês que minha felicidade é bem maior que o meu cansaço por homenagear esse grande homem representante de minha terra natal. Parabéns ao poeta, a Lavras e a Fortaleza por contar com um cidadão desse porte”, concluiu.
Após o recebimento do Título de Cidadão Honorário de Fortaleza, o homenageado José Batista Lima proferiu seus agradecimentos:”Quero agradecer a duas pessoas, Maria Eunice de Oliva minha primeira professora, mas todas minhas professoras estão vivas, bonitas e saudáveis e a segunda dona Estelita Peixoto. Lembro ainda de Vilani Lemos, que está em Mangabeira; Ione Lemos e Socorro Oliveira, que também se encontra em Mangabeira”.
“Queria lembrar aqui uma professora importante, que nem sabia que tinha sido minha professora, que foi Maria Teresa, irmã mais velha de minha mãe, a quem chamávamos carinhosamente de Tedeza, que nos deixou há pouco tempo com 98 anos. Ficou viúva muito cedo com três filhos para criar, no Sítio Taquari, e meu avô ajudou muito. Ela montou um tear de tecer redes e lençóis. Meu avô plantava algodão, e ela pegava os capuchos batia que se uniam e viravam uma pasta, fazia tiras e começava a tear. Fazia os novelos, dai fazia as redes e presenteava as irmãs”.
“Hoje eu saio no grande tear da linguagem e pego as melhores palavras como se fosse capuchos que ela colhia e vou formando as palavras, como Tedeza fazia com os fios de algodão. Faço todo esse trabalho com papel branco e caneta vermelha. Em cada página é como eu derramasse sangue. são sempre oito páginas. Uso sempre o número oito, é o número da subjetividade, é o número do infinito, o número que Guimarães Rosa colocou no final de seu livro Grande Sertões Veredas. Nessa grande roça que é fortaleza, passei a acatar os capuchos da minha preferência do meu afeto. São quase três milhões de habitantes, mais de 4 mil ruas. Mas entre eles, passei a escolher capuchos que estão que aqui estão presentes nesta sessão.”
Em seguida, Batista de Lima afirmou que passaria a proferir seu poema mais recente, o seu discurso oficial, falando sobre seu amor por Fortaleza: “Quando cheguei a Fortaleza, eu ainda criança e ela já moça quase feita. Eu fui dançar nos seus braços aos seis anos da minha vida e muito mais na vida dela. Eu dos Sertões das Lavras e ela da Praia. Com os meus pais fomos trazidos por um trem, arrastado por uma Maria Fumaça para conhecer o mar. No nosso segundo encontro eu vim prestar exame de audição para o Liceu do Ceará. E Fortaleza vinha virar fumante pelas chaminés da Brasil Oiticica, ao leste do Carlito, onde eu morava. Desencontramo-nos e eu fui para no Crato. Fiquei por cinco anos e estudei no Colégio Apostólico da Sagrada Família. Ia ser padre. Fortaleza, no entanto, ainda flertava comigo. Utilizou-se do meu tio e educador, Joaquim Batista de Lima para adotar-me em definitivo em seus braços”.
“Estávamos em 1967. São 50 anos de magistério. Comecei a trabalhar em Fortaleza, no dia 4 de fevereiro de 1967, aos 17 anos no Educandário Casimiro de Abreu. Uma terça feira, às duas da tarde, com uma turma de 13 alunos. Tenho 40 de Unifor. Naquele ano, ainda garoto, imberbe, ingressei no magistério aprendendo mais, do que ensinando aos filhos desta cidade em flor. Naquele dia eu abraçava uma das mais belas profissões. Tornava-me professor de língua Portuguesa. Segundo Olavo Bilac, a última flor do Lácio, inculta e bela. ”
“Ainda hoje continuo pelejando em torno desse idioma tão passível de possibilidades, tão aberto para a transmissão dos meus pensamentos, paixões e emoções. Por dez anos lecionei no Educandário Casimiro de Abreu. Fui Estudante de Letras e depois Pedagogia na Universidade Estadual do Ceará. Foi então que ingressei no Magistério Estadual. Ingressei por concurso no ensino fundamental, orientador de aprendizagem no sistema de tele-educação na Escola de 1º Grau Júlia Giffoni em que terminei como vice-diretor do turno da noite”.
“Estive por três anos no Colégio Brasil, cinco no General Osório, onze no Colégio Militar de Fortaleza e três como professor substituto da Universidade Federal do Ceará, em que cursei, em seguida, o Mestrado em Literatura. O grande salto, no entanto, foi fazer concurso para a Universidade Estadual do Ceará em que lecionei Literatura até me aposentar como professor adjunto. Nesse meu périplo por instituições de ensino, em fevereiro de 1977, ingressei como professor de Português na Universidade de Fortaleza. Foi amor à primeira vista, é tanto que estamos, eu e ela, estamos completando quatro décadas de vínculo afetivo. Ela ensina-me, eu aprendo, ela me apreende. Na Unifor cheguei a diretor do Centro de Ciências Humanas em militei por 17 anos e quatro meses, sempre utilizando a técnica administrativa do trabalho em equipe, com a descentralização do poder e das ações. Consegui agradar, em especial a mim mesmo. ”
“Na Universidade de Fortaleza editei a maioria dos meus livros. Ganhei uma coluna no Diário do Nordeste, que mantenho há dez anos, às terças-feiras. Por todo esse transito pelo povo desta cidade, Ainda estudante secundarista no Liceu, fui procurado certa feita pelo colega Carneiro Portela para ingressar no Clube dos Poetas Cearenses. Teve então início na minha vida a batalha da razão me puxando para o trabalho e a emoção de tanger para as musas. Para sair salvo dessa batalha, ofereci minha mão direita para ensaio literário e a esquerda para cantar, a subjetividade em possíveis poemas. Depois do Clube dos Poetas, veio o Clube Siriará, quando convivi literariamente com Rogaciano Leite Filho, Airton Monte, Adriano Spindola, Rosemberg Cariri, Jackson Sampaio, Geraldo Markan, Floriano Martins, Joice Cavalcante, Oswald Barroso, e mais outros valorosos companheiros”.
“Do Estoril ao Quina Azul, da Praça do Ferreira ao Teatro Universitário, panfletávamos poesia como salvadora do mundo e de nós próprios. Éramos tão felizes e não sabíamos! Fortaleza era nossa. Por esse passeio pelo povo desta cidade, tropecei em alguns empecilhos, mas não topei. Tentei vencer ousadias e consegui ultrapassar algumas. Ingressei no Colégio Estadual de Educação em 2009 e lá ainda permaneço como conselheiro. Não só pelo meu currículo, mas pelo incentivo do padre Lemos, professor Edgar Linhares e do deputado Ivo Ferreira Gomes, com quem trabalhei em projeto do Unicef. Também ingressei na Academia Cearense de Letras em que ocupo a cadeira e número dois, tendo a partir daí, também ingressado na Academia Cearense de Língua Portuguesa, na Lavrense de Letras, na Fortalezense de Letras e na Norte e Nordeste de Letras”.
“Minhas senhoras, e meu senhores. Essa trajetória de vida não seria executada sem o apoio da ancestralidade, tanto paterna, quanto paterna, da família, dos amigos e da crença que sempre tive de que viver é construir sonhos, é se responsabilizar por quem nos cativa. Agora como cidadão de Fortaleza, mas responsabilidade eu tenho para com esta maravilhosa cidade. Quero-a mais humana, mais pacifica, bem administrada. Quero vê-la feliz. Quero que volte as suas praças, suas calçadas, suas praias frequentáveis, quero ver crianças brincando, adultos conversando, pássaros nas árvores. Agora como fortalezense, quero o colo dessa cidade, para poder sonhar mais livre. Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção receba-me como o seu novel filho. Ainda tenho muito para lhe dar e você tem muito para me ofertar”, concluiu.
No final, foi apresentado um recital poético por alunos da Escola Maria Ester de Lima, que recitaram poemas de autoria do poeta Batista de Lima.
PERFIL
José Batista de Lima, nasceu em Lavras da Mangabeira, 17 de maio de 1949, é um professor e escritor brasileiro. Estudou no Seminário do Crato e concluiu o primeiro grau (ensino fundamental) no Colégio José Waldo Ribeiro Ramos, em Fortaleza. Cursou o segundo grau no tradicional Liceu do Ceará. Aos 26 anos, graduou-se em Letras pela Faculdade de Filosofia do Ceará, em 1975, e em Pedagogia pela UECE, em 1981. Especializou-se em Teoria da Linguagem pela Unifor.
Mestre em Literatura pela Universidade Federal do Ceará, Batista de Lima teve sua dissertação sobre Moreira Campos – A escritura da ordem e da desordem publicada pela Secult em 1993. O trabalho sobre o maior contista cearense, representa hoje excelente fonte de pesquisas sobre o célebre condutor do “fusquinha verde metálico”. O então mestrando teve o privilégio de contar com a presença do autor e sua esposa, D. Zezé, em sua defesa.
Além de uma boa formação acadêmica, Batista de Lima se destaca na literatura cearense contemporânea por ser autor de vários livros na modalidade de contos. É professor comprometido com a formação de seus alunos. Leciona na Uece e Unifor, já tendo ensinado nos colégios Casimiro de Abreu, Brasil, General Osório, Júlia Giffoni e Colégio Militar de Fortaleza. Lecionou a disciplina de Literatura Cearense na Universidade Estadual do Ceará (Uece). Atualmente, leciona a disciplina de Linguagem Jurídica e Produção Textual na Universidade de Fortaleza (Unifor).
Como escritor participou dos grupos dos Poetas Cearenses, Siriará, Arsenal, Catolé e Plural. Entre suas obras literárias destacam-se: Miranças, 1977; Os Viventes da Serra Negra, 1981; Engenho, 1984; Os Vazios Repletos, 1993; Moreira Campos – A escritura da Ordem e da Desordem, 1993; Janeiro da Encarnação, 1995; O Pescador de Tabocal, 1997; A Literatura Cearense e a Cultura das Antologias, 1999; O Fio e A Meada: ensaios de Literatura Cearense, 2000; Janeiro É um Mês que não Sossega, 2002; O Sol de Cada Coisa, 2008; Tiborna, 2014/;Concerto Para Espantos, 2015. Em 2013 criou o prêmio de literatura Unifor. Tal concurso é aberto para escritores nacionais e internacionais, contemplando vários gêneros literários. Hoje ocupa a cadeira deixada por Luís Sucupira, na Academia Cearense e Letras.
Entre os títulos e honrarias recebidas destacam-se as seguintes: Menção Honrosa no Prêmio Estado do Ceará, no gênero poesia, Estado do Ceará (1985); Prêmio Osmundo Pontes de Literatura, (2001); Professor Modelo, Secretaria de Educação do Ceará (1981); Professor Corujão, Direção do Colégio General Osório (1978), Membro efetivo da Academia Cearense da Língua Portuguesa, ocupando a cadeira 31 (1988); Menção Honrosa no Prêmio Estado do Ceará, no gênero Ensaio e Estudo Literário (1989); Medalha Boticário Ferreira, Outorgada pela Câmara Municipal de Fortaleza (1998), Titular da Cadeira no. 2, como Membro efetivo da Academia Cearense de Letras (1998). Tem 19 artigos publicados em periódicos, 13 livros publicados ou organizados, 01 Capítulo de livros publicados; 348 textos em jornais ou revistas (magazines) e 3 outros tipos de produção bibliográfica.
http://wp.cmfor.ce.gov.br/cmfor/camara-entrega-a-medalha-boticario-ferreira-ao-professor-e-escritor-jose-batista-de-lima

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