Medalha Paulo Freire

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Medalha Paulo Freire entregue a Roberto Cláudio Frota, Cláudio Ricardo Gomes, Lindalva Pereira e Francisco Ferreira (foto André Lima)
A Câmara Municipal de Fortaleza (CMFor) realizou ontem (19), no Plenário Fausto Arruda, Sessão Solene para a outorga da Medalha Paulo Freire a personalidades de destaque na Educação no município de Fortaleza. A comenda, concedida anualmente, foi criada em 1998 pela Comissão de Educação, Ciência, Tecnologia, Informática e Inovação da CMFor para homenagear anualmente três pessoas físicas e/ou jurídicas que se destaquem no trabalho em prol da educação na Capital. Foram homenageados nesta noite quatro personalidades, devido empate técnico: Lindalva Pereira, Francisco Ferreira, Cláudio Ricardo Gomes e Roberto Cláudio Frota Bezerra Gomes. Os agraciados foram escolhidos em agosto deste ano, pela Comissão.
A sessão foi presidida pelo vereador Evaldo Lima (PCdoB), presidente da Comissão de Educação, representando no ato o presidente do Legislativo Municipal, vereador Salmito Filho. A mesa dos trabalhos contou com as presenças do magnífico reitor Virgílio Augusto Sales Araripe, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE); Jaime Cavalcante, secretário educação da PMF; e dos vereadores Deodato Ramalho (PT), Toinha Rocha (Rede) e Elpidio Nogueira (PDT).
Em seu pronunciamento de saudação aos homenageados e presentes, o vereador Evaldo Lima destacou a data desta homenagem como especial por ser o dia do aniversário do Educador Paulo Freire, “que continua, mais do nunca, vivo, a inspirar, com o seu exemplo de vida, e a orientar, com as suas lições, todas as pessoas que se dedicam à causa da educação, e, em especial, a educação de crianças, jovens e adultos das classes populares”.
Evaldo observa que ao conceder a Medalha aos educadores, a Câmara Municipal reverencia a memória do mestre da pedagogia dos povos oprimidos, criador do método de alfabetização de jovens e adultos, “aplicado pelo mundo afora, desde os casebres de Angicos, no alto sertão nordestino, aos pobres barracos caboverdeanos, passando, acreditem, pelas terras do Tio Sam e pelo habitat suíço”.
“Mas o que ele queria, verdadeiramente, era apenas ser lembrado como o educador que lutou a vida inteira, por um mundo mais solidário, mais fraterno e com mais justiça social. E ao falar dele, nesta noite do seu aniversário, quero, brevemente, citar a sua obra antológica, Pedagogia do Oprimido, para lembrar a essência do seu pensamento, centrado na defesa de uma nova relação entre o professor, o aluno e a sociedade. Através de uma análise marxista, Freire afirma que o educador deve ter uma postura revolucionária, conscientizando os estudantes sobre a ideologia opressora para que estes possam se libertar e modificar a realidade na qual estão inseridos,” avaliou.
“Paulo Freire, na sua prática educativa, dispensou o uso das tradicionais cartilhas, baseadas em repetições de palavras e frases formuladas previamente, para introduzir o diálogo questionador como elemento fundamental no processo de ensino e de aprendizagem, e se contrapor, no cotidiano da sala de aula, ao que ele chamou de educação bancária, o tradicional formato de educação que tem como pressuposto a relação entre um professor que tudo sabe, e por isso mesmo tem o monopólio da fala, e um aluno que apenas recebe passivamente o conteúdo, porque nada sabe. É contra essa realidade que se coloca o educador Paulo Freire, ao afirmar com a mais absoluta convicção: Defendo a educação desocultadora de verdades. Educandos e educadores funcionando como sujeitos para desvendar o mundo”.
O parlamentar frisa que o que Freire defende, na verdade, é a educação como prática da liberdade, que vê o educando como sujeito da história, e que faz do diálogo e da troca os elementos essenciais para o desenvolvimento da consciência crítica, capaz de despertar nas pessoas a crença e a certeza da possibilidade de mudar o mundo pela via da educação.
“Quero ressaltar nesta oportuna ocasião, para o conhecimento de todos, que o educador Paulo Freire foi oficialmente declarado Patrono da Educação Brasileira, nos termos da Lei 12.612/2012, proposta pela Deputada Luiza Erundina, aprovada pelas duas Casas do Congresso Nacional e sancionada pela Presidenta Dilma Rousseff”
“Ressalto, ainda, que este Parlamento Municipal instituiu a Medalha Paulo Freire, por meio da Resolução de nº 1525/1998, alterada pela Resolução de nº 1615/2012, com o nobre propósito de homenagear, anualmente, pessoas físicas ou pessoas jurídicas, que tenham se destacado na realização de ações em favor da educação na cidade de Fortaleza. Pois é exatamente, no cumprimento dessa iniciativa, que a Câmara Municipal da nossa cidade, através da Comissão de Educação, da qual faço parte, juntamente com os vereadores Didi Mangueira, Guilherme Sampaio, Gerôncio Coelho, Germana Soares, Luciran Girão e Toinha Rocha, chamou a esse Plenário todos vocês, ilustres militantes das causas da educação, para reverenciarmos a memória do educador Paulo Freire, neste ato de entrega da medalha que traz o seu nome, a quatro educadores, verdadeiramente comprometidos com os nobres propósitos da educação de crianças, jovens e adultos de nossa terra”.
Em seguida Evaldo Lima anunciou os nomes dos agraciados da noite: “o antropólogo Francisco Ferreira de Alencar, o respeitadíssimo mestre Chico Alencar, companheiro de Paulo Freire nas lutas por uma educação libertadora. Ele, em 1970, no auge da ditadura, estava no México em exílio e depois no Chile e vivenciou a ditadura de Pinochet e logo depois foi para a Suécia; o Professor Cláudio Ricardo Gomes, que é um dos professores mais queridos do Estado do Ceará. Fui companheiro deles em diversas escolas e ele tem uma ligação com o Movimento Estudantil, além de ter dado uma grande contribuição na interiorização do IFCE; a professora Lindalva Pereira Carmo, graduada em Pedagogia pela Faculdade de Filosofia do Ceará, e é também muito querida. Todos meus colegas professores afirmam que ela fez história na educação e deixou marcas na sua pedagogia do carinho, do afeto; e o professor Roberto Cláudio Frota Bezerra, reitor da Universidade Federal do Ceará, por duas vezes, sendo eleito e reeleito pela comunidade acadêmica, com largos serviços prestados a comunidade cearense.
Ao anunciar os nomes de tão ilustres educadores para serem agraciados pela Câmara Municipal de Fortaleza com a honrosa Medalha Paulo Freire, me vem à cabeça as palavras do mestre da pedagogia dos oprimidos: “Onde quer que haja mulheres e homens, há sempre o que fazer, há sempre o que ensinar, há sempre o que aprender. Parabéns aos Mestres homenageados. Salve a memória de Paulo Freire, o patrono da Educação Brasileira!”, concluiu.
Após a concessão das medalhas e dos certificados, falou em nome dos agraciados o professor Cláudio Ricardo Gomes de Lima, que afirmou que “ninguém ignora tudo, ninguém sabe tudo, todos nós sabemos algumas coisas, todos nos ignoramos alguma coisa, por isso aprendemos sempre. A humildade mostra que ninguém é superior a ninguém. Sou intelectual que não teme ser amoroso. Amo as pessoas e o mundo, por isso luto pela justiça social. Para que um dia tua fala se torne tua pratica. Essa frase representa o pensamento de Paulo Freire”, destacou.
“Sua prática inovadora de educação, fez dele um dos primeiros brasileiros exilados durante a ditadura. No Chile, encontrando um ambiente favorável escreveu a Pedagogia do Oprimido. Após 16 anos de exílio voltou para o Brasil, para reaprender seu país. Foi secretário de Educação de São Paulo. Teve seu nome reconhecido no mundo todo por seu método de educação, recebendo comendas e títulos de Doutor Honoris Causa de 27 universidades pelo mundo”.
“Ser agraciado com a Medalha Paulo Freire é motivo de enorme orgulho e alegria, não só pela referência ao educador, mas por ser dedicada a personalidade que tenham realizado trabalhos pela educação. Coube a mim falar pelo homenageado representando pessoas de tão alta capacidade. É um grande prazer estar ao lado dessas personalidades. Com a convicção que homenagens reforçam compromissos por uma educação de qualidade e acessível a todos os fortalezenses, quero em nome dos homenageados com a humildade que destacou o grande educador Paulo Freire, agradecer ao vereador Evaldo Lima, a comissão de Educação, entidades que referendaram nosso nome, a CMFor em nome do presidente Salmito Filho e a todos que compareceram a essa noite memorável”, disse o professor Cláudio Ricardo.
Falou, ainda, o vereador Deodato Ramalho, que falou do nome do professor Chico Alencar que foi indicado por ele. “Triste da nação e da cidade que precisa de heróis. As nações precisam dos homens e das mulheres imprescindíveis, como fala Bertold Brecht. O Chico Alencar é um sobrevivente de duas ditaduras, da brasileira e chilena. Queria nesse momento que celebramos o Paulo Freire, afirmar que a sentença mais importante dele é quando afirma que quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser o opressor. Quero homenagear o militante Chico Alencar e todos militantes. O que seria desse mundo sem militantes, não porque sejam perfeitos, ou super-homens, não é isso, é porque eles não vem buscar o seu, mas estão a serviço do progresso humano”.
Já a vereadora Toinha Rocha destacou em nome da professora Lindalva, por ser a única mulher homenageada da noite. Quero saudar os netos dos homenageados, por ser por vocês que continuamos na luta. Só vale agente lutar e sonhar, porque os sonhos não envelhecem, se for por um propósito nobre. Entrei na política, porque vislumbrei que Fortaleza precisa de gente que lute por uma educação melhor. Cada legislatura são 12 medalhas Paulo Freire por ano, e vocês fizeram por merecer essa homenagem. Nós não aprendemos nada sozinho, não educamos nada pra ninguém, aprendemos todo o dia em comunhão. Parabéns a cada um. E que continuem lutando porque as crianças e jovens de hoje precisam de uma educação melhor”, concluiu.
Outro homenageado da noite, o professor Chico Alencar também fez seu pronunciamento. Ele disse que aprendeu com Paulo Freire a humildade, o humanismo e a tolerância a ouvir uma opinião contrária, refletir sobre ela e fazer a pergunta. No México, Chile, Suécia, e Moçambique quando estava em guerra, mas mesmo em guerra, o nome de Paulo Freire circulava. O nome do humanista, apóstolo da educação sem fronteira, senão aquela que o próprio conceito do individuo permite. Vivi 25 anos fora do Brasil, ame-o ou deixe-o. Estou aqui. Nosso país é um país que renuncia sua própria liderança mundial. Brasil é um cenário de paz, a violência que existe não é guerra civil. A resposta para tudo isso vai pela educação. A democracia brasileira não pode estar fora das escolas primárias. Não podemos deixar de fora a política, que foi introduzida logo no descobrimento com o pagamento de propinas. Dizem que os índios receberam espelhinhos. Devemos construir o País não de cima para baixo. Os opressores as vezes, em certa medida, somos nós. Mas afirmo, sacralizar o sagrado é um sacrilégio. Me desculpem então”, finalizou.
Perfis
  • O professor Roberto Cláudio Bezerra nasceu em Fortaleza em 1946. Foi assessor de Planejamento da Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação, pró-reitor adjunto de Assuntos Estudantis, pró-reitor de Planejamento, assessor de Programas Especiais do MEC e consultor em alguns bancos mundiais e do BID. Em 2002, ocupava o segundo mandato de Reitor da UFC. Diretor da Educar Consultoria, desde 2007.
  • O professor Cláudio Ricardo Gomes de Lima é professor titular e ex-reitor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), no período 2009/2013, foi reitor e presidente do Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Cientifica e Tecnológica (Conif). Atualmente é Secretário Municipal de Desenvolvimento Social, Trabalho e Combate à Fome da Prefeitura de Fortaleza.
  • Professora Lindalva Pereira Carmo, é Professora Titular aposentada da Universidade Estadual do Ceará, e membro do conselho editorial da revista “Mensagem”, do Conselho Estadual de Educação. Doutoranda em Educação pela Universidade da Ilha da Madeira (Portugal). É secretária-adjunta da Secretaria de Educação de Fortaleza.
  • Professor Francisco Ferreira Alencar, ou Chico Alencar como é mais conhecido, é fundador do Instituto de Antropologia do Estado do Ceará, professor da Universidade Federal do Ceará, da Universidad Nacional Autônoma de México, da Universidade de Estocolmo (Suécia), tendo exercido atividades pessoalmente com Paulo Freire.
  • www.cmfor.ce.gov.br

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